terça-feira, 5 de julho de 2011

Relativamente complicado

Estudo da ciência ainda é enigma para alunos e professores nas escolas

Em 1905, o físico e matemático Albert Einstein propôs a Teoria da Relatividade Restrita e em 1916 a Teoria da Relatividade Geral. Contudo, mesmo hoje, essa questão ainda é vista como um tabu nas escolas. Pouco ou quase nada sobre o assunto é ensinado no Ensino Médio. A ciência, em geral, é tratada como algo inalcançável e muito do que é ensinado são conceitos antigos.
O professor do curso de Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Paulo Ricardo da Silva Rosa, explica que toda a parte de concepção de mundo desenvolvida no séc. XX não é tratada na escola. “Se você olha hoje para o currículo de física no ensino médio, o que é dado efetivamente vai até, mais ou menos, 1850, 1830. Pouca coisa depois disso é abordado”, diz. Ainda não existe uma metodologia amplamente desenvolvida para tratar o estudo da física contemporânea. “Como é que você pega um conceito que é extremamente abstrato e transforma isso em uma coisa que um aluno de ensino médio possa entender? Isso é um problema sério”, continua Paulo Rosa.
Profº Paulo Rosa explica a Teoria da Relatividade em seu quadro
Desde a quantidade de detergente a ser usado em uma esponja na hora de lavar a louça até o modo como se deve limpar um CD de vídeo-game pode ser calculado pela ciência.  Em um mundo cada vez mais tecnológico e, ao mesmo tempo, preocupado com o meio ambiente, é necessário ter um mínimo de conhecimento para compreendê-lo, entendê-lo e preservá-lo. “Há um tempo atrás saiu uma matéria sobre a influência do uso do celular na saúde mental das pessoas. Como alguém poderá julgar se aquilo que está na matéria é sensacionalismo ou é verdadeiro se ela não sabe como o celular funciona?”, questiona o professor de física da UFMS.
Quanto a Teoria da Relatividade, Paulo Rosa adverte que até mesmo em livros usados na faculdade existem afirmações incorretas.  “Em livros de física de ensino superior se escreve que em níveis de baixa velocidade a Teoria de Einstein se reduz a Teoria de Newton. Isso não é verdade. Não se reduz uma teoria a outra. Porque os pressupostos delas, a visão de universo que elas trazem, são completamente diferentes. Os resultados numéricos que elas dão são a mesma coisa. Você tem resultados semelhantes, mas isso não quer dizer que uma teoria se reduz a outra”, critica.
Para Paulo Rosa, uma saída para se trabalhar melhor a ciência nas escolas é a contextualização do assunto. “Contextualizar é colocar um conhecimento em uma situação onde ele faça sentido, onde ele se conecte com algum aspecto do mundo”, diz. A aluna de mestrado em Física da UFMS, Camila Rodrigues Coelho, produziu um projeto com alunos do segundo ano do ensino médio em Jataí, Goiás. Ela contou com a ajuda de um software educacional desenvolvido no campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, UNESP.Nós ensinamos o conceito de equivalência de massa-energia da idéia revolucionária de Einstein sobre massa e energia e contextualizamos esse conceito no funcionamento das usinas nucleares”, diz Camila Rodrigues.
Sobre a recepção dos alunos ao projeto, a mestranda conta que foi proveitosa. “Eles gostaram muito porque coincidiu de ter acontecido o acidente em Fukushima e de ter relembrado Chernobyl. Então, os alunos se sentiram motivados a aprender. E eu não entrei muito na questão de cálculos”, comenta. O projeto, realizado em 2011, é um exemplo de como desenvolver o interesse dos alunos.  “É possível explicar esses conceitos no ensino médio. Você só tem que saber o caminho”, completa Camila Rodrigues.
Contudo, outra problemática destacada por Paulo Rosa é a disponibilidade do professor. “Existem professores que não tem condições de trabalho adequadas. Como esse professor irá preparar um ensino diferenciado? Que hora ele irá construir essas situações de contextualização? Como irá dar um ensino individualizado quando tem 45 alunos por turma e 10 turmas por semana?”, diz.
A ciência deve ser vista como um modo de compreender o mundo em que vivemos. Ela será corretamente explicada somente quando houver uma devida interação entre aluno e professor. “Qualquer pessoa pode entender ciência, basta estudar”, finaliza o professor Paulo Rosa.

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